domingo, janeiro 30, 2005

Canção de Angónia

Visto a camisa lavada
e vou para o contrato.
Quem de nós,
quem de nós irá voltar?
Vinte e quatro luas,
sem ver as mulheres,
sem ver a minha terra,
sem ver o meu boi.
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Visto a camisa lavada
e vou para o contrato,
trabalhar lá longe.
Vou para além da montanha,
para lá do mato,
onde some o rio.
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Veste a camisa lavada,
e hora de ir ao contrato.
Entra, irmão, no vagão,
vamos andar noite e dia.
Quem de nós.
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
quem de nós irá morrer?
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar
e ver as mulheres,
e ver nossas terras
e ver nossos bois?
Quem de nós irá morrer?
Quem de nós?
Quem de nós?


GOUVEA LEMOS


Biografia
1924-1972

Moçambique

Gouvea Lemos dominava as palavras mas não era muito de se meter a poeta. G.L. foi jornalista muitos anos em Moçambique. Nascido em Lamego, Portugal, foi para Moçambique em 1949 aos 25 anos de idade. Inicialmente começou a trabalhar na área contábil da Textafrica na Soalpo e começou ainda de lá a escrever as suas primeiras linhas como correspondente, da região do Chimoio, para o Diário de Moçambique da Beira, o jornal dos Padres. Depois passou por vários jornais de Moçambique, tendo como um dos grandes feitos ser um dos fundadores do jornal semanal Tribuna, um dos marcos do jornalismo independente de Moçambique colónia. Nos últimos anos de Moçambique foi o Director de Redacção do Noticias da Beira. José Craveirinha, Rui Knopfli, Fernando Couto (pai de Mia Couto) e muitos outros, juntos com G.L. viveram grandes momentos históricos do jornalismo moçambicano.

Em 1972, já cansado da ditadura colonial e das pressões de orgãos como os da PIDE e da censura, resolveu migrar para o Brasil. Já com problemas cardíacos e com a aflição de ter que deixar a sua Pátria adoptada, veio a falecer, três meses após a sua chegada ao Brasil, no Rio de Janeiro. Sei que G.L. nasceu em Portugal mas sei como ele sentia-se Moçambicano e como sofreu pelas injustiças dos tempos da ditadura colonialista. Sei bem disso pois como filho convivi com muitas das suas aflições.
Zé Paulo Gouvea Lemos.



2 comentários:

Anónimo disse...

Mas ka giro ku teu bló 'tá, todo em blue!! _ gostei, beijo, 'chuinguita'.

Anónimo disse...

GL era "show de bola"! Obrigado, Maryluh!
O Aeromosso.