Visto a camisa lavada
e vou para o contrato.
Quem de nós,
quem de nós irá voltar?
Vinte e quatro luas,
sem ver as mulheres,
sem ver a minha terra,
sem ver o meu boi.
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Visto a camisa lavada
e vou para o contrato,
trabalhar lá longe.
Vou para além da montanha,
para lá do mato,
onde some o rio.
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
Quem de nós irá morrer?
Veste a camisa lavada,
e hora de ir ao contrato.
Entra, irmão, no vagão,
vamos andar noite e dia.
Quem de nós.
Quem de nós irá voltar?
Quem de nós,
quem de nós irá morrer?
Quem de nós,
Quem de nós irá voltar
e ver as mulheres,
e ver nossas terras
e ver nossos bois?
Quem de nós irá morrer?
Quem de nós?
Quem de nós?
GOUVEA LEMOS
Biografia
1924-1972
Moçambique
Gouvea Lemos dominava as palavras mas não era muito de se meter a poeta. G.L. foi jornalista muitos anos em Moçambique. Nascido em Lamego, Portugal, foi para Moçambique em 1949 aos 25 anos de idade. Inicialmente começou a trabalhar na área contábil da Textafrica na Soalpo e começou ainda de lá a escrever as suas primeiras linhas como correspondente, da região do Chimoio, para o Diário de Moçambique da Beira, o jornal dos Padres. Depois passou por vários jornais de Moçambique, tendo como um dos grandes feitos ser um dos fundadores do jornal semanal Tribuna, um dos marcos do jornalismo independente de Moçambique colónia. Nos últimos anos de Moçambique foi o Director de Redacção do Noticias da Beira. José Craveirinha, Rui Knopfli, Fernando Couto (pai de Mia Couto) e muitos outros, juntos com G.L. viveram grandes momentos históricos do jornalismo moçambicano.
Em 1972, já cansado da ditadura colonial e das pressões de orgãos como os da PIDE e da censura, resolveu migrar para o Brasil. Já com problemas cardíacos e com a aflição de ter que deixar a sua Pátria adoptada, veio a falecer, três meses após a sua chegada ao Brasil, no Rio de Janeiro. Sei que G.L. nasceu em Portugal mas sei como ele sentia-se Moçambicano e como sofreu pelas injustiças dos tempos da ditadura colonialista. Sei bem disso pois como filho convivi com muitas das suas aflições.
Zé Paulo Gouvea Lemos.
domingo, janeiro 30, 2005
quinta-feira, janeiro 27, 2005
"Nunca Mais" - 60º aniversário da libertação de Auschwitz
Líderes mundiais encontraram-se nesta quinta-feira na Polônia para o aniversário de 60 anos do fim do campo de concentração de Auschwitz. No primeiro evento do dia, 43 chefes de Estado assistiram, em um teatro de Cracóvia, a um filme sobre as péssimas condições em que viviam os prisioneiros da Alemanha nazista.
Em 1945, último ano da 2ª Guerra Mundial, 1500 pessoas eram mortas a cada dois dias nas câmaras de gás. Mais de um milhão de pessoas, a maioria judeus, foram mortas no campo até que o exército soviético libertasse os prisioneiros.
O chefe da missão à época contou em vídeo como tudo aconteceu. O novo presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, conviveu de perto com o holocausto. O pai dele foi prisioneiro em Auschwitz e contava sempre as histórias sobre o local.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que ninguém tem o direito de ser indiferente ao anti-semitismo. O presidente de Israel, Moshe Katsav, disse que a história do holocausto não pode ser distorcida.
O segundo evento do dia aconteceu no próprio campo de concentração. O frio e a neve deram realismo à comemoração. Nestas condições meteorológicas que os judeus foram libertados. Muitos morreram de frio enquanto fugiam.
O início da cerimônia foi marcada pela reprodução do barulho do trem que levava os prisioneiros até Auschwitz. Sobreviventes do massacre e veteranos do Exército Vermelho soviético acenderam juntos velas para lembrar os mortos. No final da cerimônia, o trilho por onde passava o trem virou um rastro de fogo.
Em 1945, último ano da 2ª Guerra Mundial, 1500 pessoas eram mortas a cada dois dias nas câmaras de gás. Mais de um milhão de pessoas, a maioria judeus, foram mortas no campo até que o exército soviético libertasse os prisioneiros.
O chefe da missão à época contou em vídeo como tudo aconteceu. O novo presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, conviveu de perto com o holocausto. O pai dele foi prisioneiro em Auschwitz e contava sempre as histórias sobre o local.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que ninguém tem o direito de ser indiferente ao anti-semitismo. O presidente de Israel, Moshe Katsav, disse que a história do holocausto não pode ser distorcida.
O segundo evento do dia aconteceu no próprio campo de concentração. O frio e a neve deram realismo à comemoração. Nestas condições meteorológicas que os judeus foram libertados. Muitos morreram de frio enquanto fugiam.
O início da cerimônia foi marcada pela reprodução do barulho do trem que levava os prisioneiros até Auschwitz. Sobreviventes do massacre e veteranos do Exército Vermelho soviético acenderam juntos velas para lembrar os mortos. No final da cerimônia, o trilho por onde passava o trem virou um rastro de fogo.
sexta-feira, janeiro 21, 2005
A ordem natural das coisas
Como já escrevi hoje, a vida pode ser muito cabra. Deixo aqui este artigo de uma Amiga dedicado ao único irmão, que morreu.
Paulinha os meus pêsames. Que o teu mano repouse em PAZ.
A ordem natural das coisas
Há certas coisas que deveriam ser, por leis da natureza, imutáveis.
O Inverno deveria ser sempre frio e chuvoso e o Verão quente, por exemplo. Assim saberíamos com o que contar.
Um pai também não deveria ter que passar pela provação de ver morrer um filho; ou uma mãe , no dia em que faz anos, ter de enterrar alguém que fez nascer; ou ainda uma mulher grávida sentir o seu filho mexer dentro do ventre enquanto quem o gerou se apaga para sempre e depois ter que explicar, a duas criaças de oito e cinco anos, porque é que nunca mais vão poder ver o pai.
Não é esta a ordem natural das coisas. Mas a Vida, às vezes, prega-nos partidas destas.
E há que aprender a seguir em frente e ajudar a fechar as feridas de quem sofre mais do que nós, por muito grande que seja a nossa dor. Porque com essa, nós sabemos lidar. Com as recordações, os sorrisos, as brigas, as esperanças, as alegrias.
Que a ansiedade da doença, o pulo de coração de cada vez que o telefone tocava, o ver de dia para dia o sofrimento aumentar, esses acabaram. Pelo menos, em relação a ele.
Adeus, meu querido. Gosto muito de ti. Sempre gostarei.
Paulinha os meus pêsames. Que o teu mano repouse em PAZ.
A ordem natural das coisas
Há certas coisas que deveriam ser, por leis da natureza, imutáveis.
O Inverno deveria ser sempre frio e chuvoso e o Verão quente, por exemplo. Assim saberíamos com o que contar.
Um pai também não deveria ter que passar pela provação de ver morrer um filho; ou uma mãe , no dia em que faz anos, ter de enterrar alguém que fez nascer; ou ainda uma mulher grávida sentir o seu filho mexer dentro do ventre enquanto quem o gerou se apaga para sempre e depois ter que explicar, a duas criaças de oito e cinco anos, porque é que nunca mais vão poder ver o pai.
Não é esta a ordem natural das coisas. Mas a Vida, às vezes, prega-nos partidas destas.
E há que aprender a seguir em frente e ajudar a fechar as feridas de quem sofre mais do que nós, por muito grande que seja a nossa dor. Porque com essa, nós sabemos lidar. Com as recordações, os sorrisos, as brigas, as esperanças, as alegrias.
Que a ansiedade da doença, o pulo de coração de cada vez que o telefone tocava, o ver de dia para dia o sofrimento aumentar, esses acabaram. Pelo menos, em relação a ele.
Adeus, meu querido. Gosto muito de ti. Sempre gostarei.
quinta-feira, janeiro 20, 2005
domingo, janeiro 09, 2005
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