segunda-feira, janeiro 09, 2006

Fernando Pessoa

Nos comentários do Frog, que me fez uma visita, encontrei este poema.

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

4 comentários:

Miguel disse...

Belo Lema de Vida!

Uma boa semana !

Bjks da Matilde

Isabel Filipe disse...

Querida Maryluh,

Julgo que sabes que Pessoa é o meu Poeta de eleição...mas nunca tinha lido este poema...que bom teres colocado aqui.

Beijokitas

Henrique Santos disse...

Bela citação. Fernando Pessoa é um poeta Maior, e neste tece considerações pertinentes, como sempre, ao viver e reviver, duma forma soberba, como sempre: (sic) " Quem ontem fui, já hoje em mim não vive."
Bjinhos Ricky

Pitucha disse...

Olá Maryluh
Já andei por aqui a dar uma vista de olhos.
Belo poema este. Pessoa é de excepção, sem dúvida.
Beijos