sexta-feira, junho 17, 2005

Lançamento livro Xicuembo



Editora: http://www.pedepagina.pt/

Sinópese do livro:
(…) Calcorreei aquelas vielas do caniço, conhecia largos onde se jogava futebol e onde as mamanas e os velhos se juntavam à porta da cantina ou sob uma árvore, sentados, a ver-nos jogar e a discutir o seu mundo, sem que quem passasse a cinquenta metros, na Avenida de Angola, imaginasse o mundo que ficava para além do alcatrão. Um subúrbio imenso, uma outra cidade atrás dos prédios e das avenidas, do rugir do cimento em crescimento e do cosmopolitismo das praias, da beleza das acácias que era substituída por mangueiras e seringueiras, bananeiras e, até, uma ou outra palmeira. (…)

Carlos Gil, de 50 anos, é um entre quase quinhentos mil antigos colonos moçambicanos retornados a Portugal. Desnudando-se na escrita e entrando no Universo dos blogs (http://xicuembo.blogspot.com/), iniciou o Xicuembo como exercício de nostalgia e de memórias pessoais. A sua escrita revela, porém, pela poesia e pureza de sentimentos transcritos, algo comum a quantos o lêem: o amor à vida, independentemente das suas dificuldades, históricas ou quotidianas. Xicuembo é, por isso, um relato de um percurso muito pessoal, mas também capaz de tocar as memórias de todo o povo português.

(…) Não perguntem a um chefe de família moçambicano negro qual a bandeira que queria em 1964, perguntem-lhe, sim, se vivia feliz e permitia-se ter sonhos de esperança para o seu futuro e dos seus filhos. Em 25 de Setembro de 1964, iniciou-se, de armas na mão, a conquista da independência para Moçambique, que teve de manchar com sangue esse caminho. Por surdez e cegueira umbigistas, nessa data o futuro de Moçambique ficou radicalizado, inquinado por germes que produziram, mais tarde, outras datas de má memória. Como consequência do início da luta de libertação armada, a sociedade civil colonial, branca, vê durante dez anos o falso conforto das forças militares darem-lhe apoio na sua prática encapotada de supremacia racial, e a sociedade negra ganha consciência de que pode sonhar com intensidade, pois tem filhos que ousam lutar por esses sonhos até à morte. (…)

Carlos Gil não se fica pelas memórias de juventude. Homem vivido, igual a tantos outros, destaca-se dos demais pela lucidez de raciocínio com que vai analisando também as circunstâncias históricas que, tal como a milhares de portugueses, lhe moldaram a vida. Com uma lágrima presa, como vai dizendo em Xicuembo, mas sem amargura ou com a revolta apaziguada pelas décadas decorridas. Xicuembo é uma demonstração de dignidade de todo um contingente de ex-colonos.

(…) A minha família foi para Moçambique, em 1964, no paquete 'Infante D.Henrique'. Tinha, então, oito anos. Desses aos vinte, vivi tamanha felicidade que, quando parti do aeroporto de Mavalane, no dia 20 de Janeiro de 1976, quatro horas da tarde, deixei para trás um país e um povo e procurei o desconhecido, amputado da esperança e de costas vergadas. (…)